domingo, 1 de maio de 2011

AS NOSSAS LEITURAS



O VELHO QUE LIA ROMANCES DE AMOR, DE LUÍS SEPÚLVEDA, LIDO E SENTIDO PELA CAROLINA MARTINS.

As personagens de que mais gostei foram o velho Antonio José Bolívar Proaño, porque apesar de ele ter deixado o conforto da sua casa em San Luis por causa das opiniões dos outros, o tempo que permaneceu na floresta foi-lhe muito bom para perceber quem realmente era, também por ter descoberto a sua paixão inimaginável pela leitura, porque partilhamos o mesmo sentimento em relação a esta; e o dentista, porque achei interessante e curioso o ódio pelo governo e como o expressava através da dor que transmitia aos seus pacientes e por deitar as culpas de tudo para cima do governo.

As personagens de que menos gostei foram “os maus da fita”. Estes maus da fita eram o administrador, “ A Babosa” e o gringo que, apesar de morto, tanto transtorno trouxe à ilha de El Idílio. Não gostei do administrador, porque era horrível e nojento, tratava todos a um nível desprezível e pareceu-me que era isso que ele sentia por todos os habitantes de El Idílio. Também não gostei do gringo, vítima de uma desesperada mãe onça, visto que o homem matou as crias e feriu gravemente o macho daquela pobre, vingativa e destroçada mãe animal. As acções do gringo inexperiente, apenas num acto de defesa, reflectiram-se em toda a ilha de El Idílio, visto que a onça buscava por vingança e sangue humano e ao encontrá-lo muita gente morreu.

O lugar descrito que mais me impressionou foi a floresta do Amazonas. Mas que raridade, tantas descrições de quão maravilhosos seriam todos os animais, a variedade da vegetação é encantadora, mas só de pensar na ilusão que uma beleza daquelas nos pode dar é surreal, uma aparente selva encantada, mas por detrás daquela folhagem imensa, uma selva sanguinária!

Agradou-me o desfecho da história porque no meio de tanta crueldade o velho Antonio José Bolívar Proaño conseguiu encarar a trágica situação de uma forma totalmente racional, não parou de amaldiçoar o gringo que estava na origem da tragédia, mas encarou a situação de uma forma cruel e humana, pois é isso que o ser humano é, um ser cruel e sanguinário, mas o velho conseguiu concentrar-se no que realmente lhe importava e no que faria para o resto da sua curta vida, apaixonar-se em cada palavra dos seus romances, visto que ele quase não teve tempo para amar.

O momento da acção que gostaria de ter vivido foi o momento de estar em frente ao animal, junto com António José Bolívar Proaño a pensar numa estratégia para me desenvencilhar da situação, porque realmente é o que eu mais gosto de fazer e foi para isso que a mente humana foi concebida, para pensar!

Aconselho este livro aos meus amigos porque faz realmente perceber quem, no meio de tantas proezas, são os animais racionais, que se magoam com a morte de um ente querido e quem são os animais irracionais, que não se importam de ensanguentar as memórias de uma família, apenas para seu próprio egoísmo.

Indica 3 boas razões para aconselhares um colega teu a ler este livro:

1ª: Proporciona-nos o pensamento de que se o que a floresta oferece, depois de se saber aproveitar, não é melhor do que o conforto de uma vida estável.

2ª: Traz-nos uma mensagem de astúcia, coragem, perspicácia e intuição. É uma aventura bastante selvagem e dinâmica.

3ª: Faz-nos imaginar os perigos e a pura crueldade existente no mundo animal irracional, mas também nos faz ver a frieza do mundo humano racional e que nem sempre os humanos agem da forma correcta e é isso que traz a crueldade.

Transcreve as frases / expressões de que tenhas particularmente apreciado e que gostarias de partilhar com a tua turma. As frases que achei mais interessantes e que gostaria de partilhar são as seguintes: “Quem tem a culpa é o Governo! Mete isso na moleirinha. O Governo é que tem a culpa de teres os dentes podres. O Governo é que tem a culpa de te doer.”; “Vociferava contra os governos que se sucediam da mesma maneira que vociferava contra os gringos (…) esses forasteiros desavergonhados que fotografavam sem autorização as bocas abertas dos seus pacientes.”;” (…) O gringo (…) matou as crias e feriu, com certeza, o macho. (…) Agora a fêmea anda por aí louca de dor. Agora anda á caça ao homem (…) Já sentiu e conheceu o sabor do sangue humano e, para o pequeno cérebro de bicho, todos nós, homens, somos os assassinos da sua ninhada, para ela todos temos o mesmo cheiro. (…) Cada dia que passar tornará a fêmea mais desesperada e perigosa (...) uma onça transtornada de dor é mais perigosa que vinte assassinos juntos.”; “(…) quando havia uma passagem que lhe agradava especialmente, repetia-a muitas vezes, todas as que achasse necessárias para descobrir como a linguagem humana também podia ser bela”;”A onça capta o cheiro a morto que muitos homens emanam sem saber.”;” Mesmo assim magra, era um animal soberbo, belo, uma obra-prima de galhardia impossível de reproduzir sequer com o pensamento.”;” O Velho (…) chorou de verdade, sentindo-se indigno, envilecido, de modo nenhum vencedor daquela batalha.”,” Antonio José Bolívar Proanõ tirou a dentadura postiça, guardou-a embrulhada no lenço, e, sem parar de amaldiçoar o gringo que estivera na origem da tragédia, o administrador, os garimpeiros, todos os que insultavam a virgindade da sua Amazónia, cortou com um golpe de machete um grosso ramo e, apoiando-se nele, pôs-se a andar na direcção de El Idilio, da sua choça e dos seus romances, que falavam do amor com palavras tão bonitas que às vezes lhe faziam esquecer a barbárie humana.”

Apresenta a tua opinião em relação a este livro: Eu fiz a minha avaliação da história, de acordo com o meu ponto de vista e de acordo com o que eu pude retirar de melhor e nas subtis lições que este livro nos entrega. Este livro detém o poder de transmitir a diferenciação do racional e do irracional e simplesmente achei-o fascinante. O livro retrata o amor e a emoção, a descoberta do desconhecido, foi este “pedaço de papel” que me fez pensar na realidade e na barbaridade do mundo humano e é por isso que eu me cativei e me embrulhei completamente a esta novela. Esta história transmite as leis de sobrevivência da Natureza e o respeito que o mundo selvagem merece.

Assunto / Resumo
Antonio José Bolívar Proaño vivia numa aldeia isolada, no interior da floresta, San Luís, com a sua mulher Dolores Encarnación Del Santíssimo Sacramento Estupiñan Otavalo. Na sua aldeia, toda a gente comentava o facto do casal não poder ter filhos o que os levou a partir para outra aldeia. Tentados por as ofertas que o governo oferecia em troca de povoar as ilhas, partiram para El Idílio e lá viveram dois anos. No segundo ano Dolores morreu vítima de malária.
Após esta tragédia, Antonio José Bolívar Proaño começou a conviver com a tribo Shuar, uma tribo indígena da selva da Amazónica. Nessa tribo travou grande amizade com o indígena Nushiño. Um dia, o seu amigo Nushiño morreu alvejado por um garimpeiro, que explodia diques de peixes, António José Bolívar Proaño viu o estado crítico do amigo, que nas suas últimas palavras lhe disse que só morreria em paz se o garimpeiro morresse, por não respeitar a natureza.
Antonio prepara uma emboscada ao garimpeiro, que assassina com um tiro certeiro no ventre. Sentindo-se desolado, volta para El Idílio, onde conheceu o dentista Rabicundo Loachamín, de quem se tornou amigo. Um dia, dois shuar traziam na sua embarcação um morto com péssimo aspecto, de imediato, o administrador acusou os shuar da morte do gringo, mas o velho Antonio José Bolívar conseguiu provar que os indígenas estavam inocentes e que quem tinha sido o responsável da morte do gringo tinha sido uma onça.
Um dia, quando na pequena ilha de El Idílio, apareceu o governo para efectuarem a votação para as eleições presidenciais, Antonio Bolívar descobre que consegue ler , a partir daí o administrador empresta os seus velhos jornais para o velho ler, mas estes não lhe despertavam interesse.
Sofrendo de uma dor de dentes, Antonio Bolívar vai ao dentista e em conversa com este pede-lhe que de seis em seis meses lhe traga livros do local onde vivia e combinaram que o dentista o levaria a conhecer a bibliotecária da escola primária de El Dorado que lhe falaria mais sobre os livros e talvez lhe aconselhasse um tipo de leitura. Na biblioteca escolhe o livro Rosário, de Florence Barclay e descobre que gosta de romances de amor. Leu o livro vezes sem conta.
Num dia de chuva, o velho sobressaltou-se com a gritaria da população que exclamava que havia uma canoa no rio, com um homem morto, vítima da onça transtornada, era Napoleon Salinas, entretanto a mula de Alkaseltzer Miranda, o dono da cantina, tinha aparecido ferida pela fera.
Após esse dia mortífero, chegaram quatro norte-americanos a El Idílio, entusiasmados para conhecer a floresta. O administrador pediu ao velho que os acompanhasse na expedição, mas este recusou, então os gringos partiram acompanhados por um colono e um indígena jíbaro. Passados uns dias, um dos americanos e o colono regressaram à ilha com a notícia de que os seus companheiros tinham sido atacados e mortos por um grupo de micos, também traziam a notícia que tinham encontrado mais uma vítima da fúria da mãe onça. O administrador decidiu fazer uma expedição para apanhar e matar o animal sanguinário.
A primeira paragem da caça à onça seria a cantina de Miranda, mas ao chegarem à cantina depararam-se com Miranda e Plascencio Puncem, um amigo do cantineiro, mortos, com marcas de garras.
O administrador convenceu o velho a procurar a fera sozinho, enquanto ele e o resto dos camaradas regressariam a El Idílio, com o argumento que ele era o mais veterano na floresta e que na ilha eles poderiam montar uma armadilha se a fera pensasse em passar pelas redondezas.
O velho, quando encontrou a onça, tentou descobrir o seu plano para o atacar, mas percebeu que a fera o levara para o local onde se encontrava o macho ferido e quase a morrer. O velho com pena do animal abateu-o. Depois do seu acto, a fera cercou-o em movimentos circulares e o velho, astuto e veloz, conseguiu esconder-se na margem do rio, debaixo de uma canoa. Cheio de medo, apercebeu-se que a onça estava por cima dele a planear uma estratégia para o apanhar. Num movimento repentino, intuitivo e irracional disparou à sorte, ferindo-a e a si próprio. No combate frente a frente, o homem foi mais esperto e conseguiu matar a fera, com um tiro certeiro. Chorou pelo animal e atirou-o juntamente com a arma para o rio, para serem levados pela corrente.
De volta à ilha só pensava na sua casa e nos seus romances de amor, para poder esquecer a maldade e a ganância dos homens que tanto mal tinham feito por aquelas paragens.
Carolina Martins



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