A mãe da Carolina Martins hoje foi nossa convidada. Veio partilhar momentos de poesia, o que à partida não é tarefa fácil. Mas foi muito bem sucedida! Conseguiu cativar-nos, incentivando-nos a sentir e a “procurar” a poesia nas pequenas coisas do dia-a-dia e a escrever as nossas emoções, pensamentos, memórias, sensações …
Agradecemos à mãe da Carolina por nos ter proporcionado momentos poéticos tão enriquecedores. É bom contar com os pais/encarregados de educação na promoção da leitura.
Partilhamos alguns dos poemas que proporcionaram uma reflexão sobre o significado de poesia.
A um Jovem Poeta
Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser
que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças
como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.
Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.
Manuel António Pina, in "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança"
AS ÁRVORES E OS LIVROS
As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».
É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.
Jorge Sousa Braga, Herbário, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999